Árvores Maravilhosas da Mente, Marian Diamond e Janet Hopson, Editoras; original: Dutton Book, 1998. No Brasil: Editora Campus, em 2000, 310 páginas.
Como cuidar cientificamente da inteligência, da criatividade e das emoções do seu filho, do nascimento até a adolescência.
Segue um dos diversos comentários divulgados no próprio livro: “Esqueça as dúvidas sobre a mente e o cérebro. Este livro, com bases científicas e apresentado de forma consciente, torna a leitura fascinante. – Howard Gardner, professor de Educação da Universidade de Harvard, e autor de Mentes Extraordinárias”
Meu comentário.
Aos atuais e/ou futuros papais e mamães: conhecendo o assunto, é relevante o relembrar e/ou atualizar. Não o conhecendo, será importante avaliar as possibilidades de que; precisam e devem estabelecer conexão, com atenções, atos e contatos diários com seus bebês, quando ainda no útero da mamãe, a partir do momento da concepção, enquanto ainda são embriões em gestação, desde seus primeiros dias de vida e, adicionalmente, com muitos cuidados a observar meses antes da concepção, literalmente.
Homens que podem e/ou que pretendem conceber filho(a), E MULHERES, PRINCIPALMENTE, que esperam ou que podem engravidar, bastante antes da concepção precisam e devem iniciar os cuidados que garantirão a boa formação e o sadio desenvolvimento cerebral, e as futuras boa saúde, vitalidade e boa qualidade de vida do embrião, do futuro feto e depois do bebê! Os papais 3 (três) meses antes, e as mamães 4 (quatro) semanas anteriores à concepção.
Para entendimento pleno desses indispensáveis conhecimentos, o ideal será ler o livro completo, que é maravilhoso, surpreendente e imperdível. Não querendo o ler no todo, no mínimo podem – devem – conhecer o seu capítulo 3 (três), a seguir reproduzido na íntegra. Sua leitura amplia enormemente as possibilidades do seu bebê nascer em condições ótimas e excelentes, com desenvolvimento sadio e avançado em todos os sentidos, físicos e emocionais.
Para melhor acompanhar, seguem alguns esclarecimentos disponíveis nos capítulos anteriores. Enriquecimento do cérebro: promovido por meio de estímulos especialmente dirigidos, que conduzem à melhor evolução do cérebro, à partir da sua formação inicial, na concepção, produzindo ramificações abundantes dos neurônios, desenvolvendo e expandindo a mente do seu filho, incluindo métodos para estimular e desenvolver o embrião, o feto e o bebê; Embrião: na primeira até a sétima semana de gestação; Feto: da oitava até a trigésima oitava semana de gestação; Sinapse: emparelhamento de cromossomos homólogos durante a meiose. Local/momento de contato entre neurônios, onde ocorre a transmissão de impulsos nervosos de uma célula para outra; Dendritos: prolongamentos dos neurônios que atuam na recepção de estímulos nervosos do ambiente ou de outros neurônios; Espinhos (cerebrais): prolongamentos dos neurônios que atuam na recepção de estímulos nervosos do ambiente ou de outros neurônios.
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Destacando importantes trechos do livro, seguem algumas reproduções integral e fielmente o original “Capítulo 3” do livro.
Capítulo 3
Alimente meu cérebro: influências dentro do útero. E alimente meu cérebro com algo melhor.
G.K. CHESTERTON, “A BALADA DE UM CRÍTICO LITERÁRIO”
LiseI nasceu em outubro de 1992 e teve o que a maioria chamaria de uma vida intra-uterina muito tranquila. Seus pais, Tony e Jeannine, haviam planejado sua concepção e aguardavam entusiasmados sua chegada. Jeannine cuidou de sua alimentação, incluindo vitaminas e nutrientes em sua dieta. Ela evitou ingerir álcool, cafeína, drogas e ter contato com pesticidas, aditivos químicos, tintas, produtos de limpeza e fumaça de cigarro. Jeannine parou de trabalhar dois meses antes da data prevista para o parto, evitou estressar-se ao máximo e participou de grupos de ginástica e relaxamento para gestantes.
No terceiro trimestre de gestação, Tony e Jeannine participaram de aulas de técnicas de enriquecimento pré-natal, o que divertiu bastante seus amigos e aterrorizou seu pais. Eles falavam, liam e cantavam para o bebê que estava no útero e adoravam quando ela chutava a barriga da mãe como resposta. Enquanto acariciavam a barriga de Jeannine o bebê dava chutes em forma de círculos acompanhando o movimento do carinho que recebia. Lisel aprendeu a se comunicar com o mundo exterior dando chutes bem fortes.
Depois que ela nasceu, conseguiu erguer a cabeça três semanas antes do que a maioria dos bebês. Rolou, sentou, falou, ficou de pé e andou antes de outros bebês de sua idade. Tony acha que o avançado desenvolvimento de sua filha deve-se ao treinamento pré-natal que recebeu e aos cuidados dispensados à saúde de Jeannine enquanto estava grávida.
A experiência pré-natal de Albert foi diferente. Sua mãe, Denna, era uma enfermeira especializada em cirurgia que se cuidou bem durante a gravidez, mas estava sob constante estresse. Seu trabalho exigia esforço físico e a sala de cirurgia em geral era um ambiente tenso. Além disso, o pai biológico de Albert se separou de Denna quando ela estava no quinto mês de gravidez e por isso ela teve de trabalhar cinqüenta horas semanais para poder economizar algum dinheiro. Denna continuou trabalhando até o dia do parto. A mãe de Albert gostaria de ter evitado consumir cafeína e .nicotina, mas às vezes ela tomava dois a três cafés por dia para repor as energias e fumava alguns cigarros com os amigos para tentar relaxar nos últimos meses.
Agora Albert tem nove anos, é um garoto quieto, de bom temperamento. Tira notas razoáveis, gosta de jogar futebol e é muito dedicado a Denna, que continua trabalhando o dia inteiro para poder sustentar o filho e a ela própria.
Jeremy não teve tanta sorte quanto Lisel e Albert. Os pais de Jeremy eram muito jovens, rebeldes, e decidiram ter o filho apenas porque sua religião era contra o aborto. Não porque desejassem ter um filho aos vinte anos. Joan continuou a beber nos primeiros meses de gravidez, mas quando o bebê começou a crescer, parou. Ela pensou em se alimentar melhor, mas, como não ligava para cozinha, se alimentava de hambúrgueres, batata frita, refrigerantes e doces.
Logo antes de o bebê nascer, Jack deu a ela cinco gramas de cocaína como presente de aniversário. Joan consumiu a droga ao longo de dois dias. Isso fez com que ela entrasse em trabalho de parto antes do previsto e também com que a pressão arterial do feto aumentasse. A pressão alta provocou o rompimento de alguns vasos sanguíneos do cérebro do bebê e prejudicou uma parte do córtex cerebral, inclusive o córtex motor que controla os movimentos do corpo e dos membros. Consequentemente, Jeremy nasceu com uma paralisia do lado direito.
Gestação e desenvolvimento cerebral.
Não há nenhum período da paternidade que tenha um efeito tão direto nem tão modelador para o desenvolvimento cerebral infantil do que os nove meses de gestação que levam a termo o nascimento de um bebê. A base do cérebro e do sistema nervoso nasce e cresce rapidamente, e nas primeiras semanas e meses depois da concepção podem sofrer danos permanentes devido a várias coisas que os pais comem, bebem, respiram, fumam, cheiram ou que levam para casa em suas roupas ou cabelos devido à exposição industrial. As emoções da mãe influenciam o feto, assim como seus hábitos e o ambiente físico dos pais. Finalmente, muitos acreditam que falar, acariciar a barriga, ler histórias e ouvir música beneficie o desenvolvimento cerebral e aumente os laços familiares.
É óbvio que a gestação é uma época especial para se promover um desenvolvimento cerebral mais sadio do bebê. Porém, as estatísticas sugerem que muitos futuros pais não dão importância a essa oportunidade e desprezam o papel que poderiam – e deveriam – desempenhar no sentido de assegurar o futuro potencial de seus filhos.
Um dos estudos mais recentes sobre crianças americanas mostra que uma em cada cinco apresenta problemas emocionais de aprendizado ou de comportamento, como consequência de seu ambiente físico e emocional antes e depois do nascimento.
Nicholas Zill, psicólogo da Child Trends, Inc., em Washington, DC, uma organização voltada para o controle de problemas que tenham impacto sobre as crianças, calcula que 42% das famílias americanas que têm filhos apresentam um, dois ou três fatores socioeconômicos que favorecem o aparecimento de problemas de desenvolvimento: uma mãe que dá à luz seu primeiro filho antes de acabar o ensino médio, e/ou que tenha menos de vinte anos, e/ou que não seja casada com o pai da criança.
Como veremos, esses e outros fatores podem levar a um clima emocional que altere a estrutura cerebral do bebê. Outros fatores familiares comuns que se encaixam no perfil de Zill – pobreza, má alimentação, drogas, álcool e violência – podem afetar diretamente a formação do óvulo e do esperma mesmo antes de uma criança ser gerada.
Em um mundo perfeito, toda mulher deveria receber “tratamento antes de engravidar” com exames de saúde e aconselhamento antes das relações sexuais e da concepção.
Elas aprenderiam com médicos, nutricionistas, consultores, psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais, familiares e amigos, sobre alimentação, fumo, bebida e drogas, e quais as conseqüências para o feto. Elas teriam ajuda relacionada a conflitos familiares, estresse, problemas no trabalho e habitação inadequada. Receberiam tratamento contra obesidade, anorexia, anemia, diabetes, deficiência de vitaminas, toxoplasmose e receberiam proteção e informações sobre AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis que poderiam afetar a gravidez. Seriam vacinadas contra sarampo e hepatite. Aprenderiam sobre os riscos de problemas genéticos presentes nas suas famílias, como a doença de Tay-Sachs, anemia de células falciformes ou fibrose cística. Receberiam conselhos sobre planejamento familiar para que houvesse um espaço entre cada gravidez, a fim de proporcionarem uma base emocional e financeira para seus filhos.
Contudo, segundo um ensaio do Journal af the American Medical Association, as mulheres que mais necessitam desses serviços geralmente são as que têm menos chances de obtê-lo, seja por falta de dinheiro, de agentes do serviço social, de coordenação ou mesmo de capacidade entre os profissionais que prestam assistência, ou ainda por falta de dedicação para localizar essas mulheres antes que engravidem. É claro que isso não acontece em todas as comunidades, mas em muitas delas. Não importa qual a entidade que arcará com os custos de um tratamento preventivo – os indivíduos, a igreja, o governo, as empresas -, pois os benefícios são indiscutíveis: a proteção à saúde e a difusão de informações sobre drogas, alimentação e tipo de vida podem proteger o feto, e seu cérebro, de vários danos importantes.
A ideia de cuidados médicos antes da concepção é relativamente nova e tem aumentado devido a pesquisas sobre as causas de deficiências que provocam anomalias no feto logo no início da gravidez. Um exemplo disso foi a descoberta em 1989 de que uma deficiência do ácido fólico da vitamina B (também chamada de folacina) poderia causar defeitos no cérebro e na medula espinhal.
Tragicamente, esse problema aparece nas duas semanas após a concepção – isso quer dizer, uma ou duas semanas antes de a mulher saber que está grávida. A presença de pouca folacina no organismo da mulher pode provocar uma má formação do tubo neural, a estrutura embrionária que dá origem à medula espinhal e ao cérebro. Essa deficiência é a causa da anencefalia, um defeito fatal de desenvolvimento, no qual a maior parte do cérebro está ausente. Outro problema acarretado pela falta de folacina é a espina bífida, onde a parte mais baixa da medula espinhal se desenvolve do lado de fora e não dentro do osso protetor da espinha vertebral que pode deixar a pessoa inválida. Cerca de um em 1.000 bebês nascem com problemas no cérebro ou na espinha devido à falta da vitamina B.
A mulher em idade de ser mãe deve se conscientizar da necessidade de consumir 400 microgramas de folacina por dia, encontrada em vegetais verdes, germe de trigo, feijões, lêvedo de cerveja e outros alimentos. Porém, a maioria das mulheres ingere muito pouca vitamina B. O serviço de saúde pública dos EUA calcula que a metade das concepções não são planejadas; portanto, recomenda que toda mulher que possa engravidar tome vitaminas em comprimidos ou em forma de alimento para adquirir no mínimo vinte e oito dias de reservas de folacina no caso de engravidar.
Como no caso das mulheres que precisam de cuidados antes da concepção, as mulheres que mais necessitam de conselhos sobre a folacina são as que menos os obtêm e os seguem. Felizmente, os defeitos no tubo neural do feto são bem menos comuns do que a falta de folacina na mulher adulta.
Vários fatores podem incidir sobre as células e os cromossomos do cérebro e do sistema nervoso fetal em formação. Fatores como a deficiência de folacina afetam o embrião logo no início da gravidez, enquanto outros podem prejudicar o feto no segundo ou terceiro trimestre de gravidez. (A criança em desenvolvimento é chamada de embrião da primeira semana até a sétima, e de feto da oitava até a trigésima oitava semana).
Como o desenvolvimento embrionário é delicado e preciso, muitos embriões danificados são abortados espontaneamente no começo da gravidez. Por causa disso, cerca de 95% dos bebês nos Estados Unidos, e muitos na Europa, nascem sem problemas físicos ou mentais identificáveis (ainda que alguns problemas apareçam quando o bebê cresce).
Dos 200.000 bebês que nascem por ano nos Estados Unidos com problemas, os médicos calculam que entre 3O a 35% deles herdam genes ou cromossomos portadores de anomalias que levam à fibrose cística ou à síndrome de Down, ou então são prejudicados pela diabetes materna, epilepsia, câncer ou outras doenças e drogas para combatê-Ias. Dos 65 a 70% dos problemas que restam, no mínimo um quinto e talvez a maioria, podem ser causados pela exposição a medicamentos, drogas, álcool, fumaça de cigarros e agentes tóxicos presentes no trabalho e em casa. Porém, tudo isso pode ser evitado.
Além de procurar conselhos sobre doenças maternas e riscos hereditários, evitar essas substâncias prejudiciais é a forma mais simples e direta de cuidar do bem-estar neurológico, mental e emocional da criança. O sexto fator é cortar o estresse desnecessário, e o sétimo é cuidar da alimentação – isso inclui a folacina.
Como o corpo abriga e protege de forma tão bela o bebê que se desenvolve e como os bebês portadores de grandes deficiências são geralmente abortados espontaneamente, a exposição a drogas, álcool e componentes químicos prejudica as células e os cromossomos em apenas uma pequena porcentagem de bebês. Por exemplo, mesmo as mulheres alcoólatras dão à luz bebês portadores de síndrome alcoólica fetal em apenas um terço dos casos. Contudo, problemas emocionais sutis e de aprendizado surgem mais tarde; eles são muito mais comuns e podem ser extremamente difíceis para a família. Felizmente, há muitas coisas que os futuros pais podem fazer para ajudar a construir e a proteger um cérebro saudável no útero.
Drogas medicinais.
No final da década de 1950, surgiu uma deficiência de nascença que varreu a Europa e os Estados Unidos. Cerca de 6.000 bebês nasceram com braços e mãos mais curtos e torcidos que saíam diretamente do ombro.
Os pesquisadores levaram mais de dois anos detalhando os efeitos da droga chamada talidomida, que era receitada para diminuir a ansiedade e as náuseas das mulheres grávidas em 1957. Eles descobriram que se a mulher tomasse esse medicamento entre o vigésimo oitavo e o quinquagésimo sexto dia depois da concepção, a talidornida poderia agir como uma toxina para as células do sistema nervoso e do desenvolvimento dos membros do feto.
O departamento responsável pelos medicamentos exigiu que se testassem todos os remédios novos antes de serem colocados à venda. A tragédia também chamou a atenção para os perigos de se receitar drogas durante a gravidez, o que refreou esse uso por vinte anos. Porém, parece que não refreou o suficiente.
Em 1982, uma companhia farmacêutica suíça lançou uma poderosa droga antiacne chamada Accutane. Eles sabiam, devido a longas pesquisas Iaboratoriais feitas antes do lançamento do produto, que a droga era um forte teratogênico, ou seja, um agente capaz de causar anomalias fetais. Se tomado no primeiro trimestre, o Accutane rompe o cérebro em desenvolvimento e causa retardo mental; o bebê pode nascer com uma mandíbula muito pequena e orelhas que crescem abaixo do nível do queixo. A droga pode causar ainda imperfeições nos pulmões, coração, veias e membros.
Antes de o médico receitar essa droga para uma mulher jovem, ela deve provar que não está grávida e assinar um termo de responsabilidade que demonstre que compreende os riscos e que não engravidará enquanto estiver usando o remédio. Apesar de todas as recomendações, o Food and Drug Administration dos Estados Unidos calcula que mais de 600 mulheres engravidaram entre 1982 e 1988 enquanto tomavam Accutane e deram à luz bebês com deficiências causadas pela droga.
O exemplo do Accutane é radical. Porém, três estudos importantes foram realizados no meio da década de 1980 e mostraram que 90% das mulheres ainda tomam um ou mais medicamentos durante a gravidez. Um grupo de pesquisadores em obstetrícia fez um estudo isolado e descobriu que a média das mulheres grávidas toma três medicamentos – alguns por conta própria e outros receitados – que têm o poder de alterar células ou o funcionamento celular do feto em desenvolvimento, além de levar a um crescimento retardado ou a uma má formação ou ainda a uma imperfeição. Uma outra pesquisa revelou que mulheres que usaram no mínimo um medicamento receitado tiveram filhos com 30% mais imperfeições do que as mães que nunca tomaram remédio durante a gravidez.
Algumas mulheres ironicamente tomam anticoncepcionais antes de saberem que estão grávidas, e isso pode causar má formação no embrião e no feto. Outras mulheres, antes ou depois de confirmar a gravidez, tomam tranquilizantes, antidepressivos, narcóticos para aliviar a dor (como a codeína), remédios contra epilepsia, preparados contra asma, antibióticos ou anticoagulantes para a pressão alta – todos podem prejudicar o cérebro, o sistema nervoso ou o órgão dos sentidos em desenvolvimento.
As grávidas tomam remédios sem prescrição médica mais frequentemente do que remédios prescritos. Apesar dos avisos nas bulas, os pesquisadores calculam que a maioria das grávidas toma não-narcóticos para aliviar a dor, remédios contra enjoo e antiácidos, e outras tomam remédios contra a tosse e a gripe, laxantes e pílulas para emagrecimento.
Algumas vezes, a mulher precisa de um medicamento e seu obstetra o recomenda ou o aprova. No entanto, na maioria das vezes, escrevem os professores Matthew Ellenhorn e Donald Barceloux em seu livro Medical Toxicology, as mulheres estão se automedicando, e essas drogas não são necessariamente seguras. A segurança é a preocupação principal no primeiro trimestre.
É nessa fase que os componentes farmacêuticos podem alterar o modo como os neurônios se formam, se dividem, migram, reconhecem o próprio endereço dentro do cérebro que cresce ou se conectam com outros neurônios. Apesar das principais deficiências, inclusive a imperfeição neural, serem felizmente raras, as drogas podem ser responsáveis pelo nascimento de bebês viciados, irritáveis, hiperativos, com problemas de audição, ou com outras deficiências sensoriais, motoras ou cognitivas, incluindo com baixo grau de QI.
O perigo do uso de drogas medicinais não desaparece depois dos primeiros três meses de gravidez: antidepressivos tomados no final da gravidez podem causar irritabilidade, tremores e espasmos no feto, alguns antibióticos podem prejudicar as células do ouvido interno (e com isso prejudicar a audição e o equilíbrio) que eram perfeitas no primeiro trimestre.
Os obstetras geralmente advertem as grávidas para evitarem tomar aspirina no terceiro trimestre, porque ela pode provocar sangramento no feto e no recém nascido, e proíbem o uso de altas doses de acetaminofeno (cujo nome comercial é Tylenol) porque ele pode prejudicar ou mesmo destruir o fígado do feto. Se a teoria da psicóloga Martha Pierson estiver correta, mesmo as doses baixas de aspirina podem não ser seguras se usadas durante os primeiros estágios de formação dos bebês.
A Dra. Pierson, que trabalha na Baylor University School of Medicine em Houston, fez uma descoberta acidental – e até agora extraoficial – sobre a aspirina. Pierson estuda há vários anos os acessos induzidos pelo som nos ratos, como um animal-modelo para a epilepsia.
Ela, uma mulher alta, trabalhadora, que parece ao mesmo tempo maternal e professoral, explica que, nos ratos, os ouvidos, assim como os olhos, se desenvolvem quase que totalmente depois do nascimento. Isso faz com que o período crítico do desenvolvimento auricular aconteça entre o oitavo e o décimo quarto dia de vida.
No último dia, os ouvidos se abrem e o ratinho começa a escutar. (já o ouvido humano se desenvolve no feto ao fim do primeiro trimestre e início do segundo, e o feto começa a escutar ainda no útero.)
Pierson descobriu que se desse aspirina ao filhote de rato no décimo primeiro ou décimo segundo dia, enquanto algumas conexões neurais entre o ouvido e o cérebro estão se formando, o animal poderia sofrer mais tarde um acesso induzido pelo som. O mesmo acontecerá se alguém tocar uma campainha bem alta perto da gaiola do rato no décimo quarto dia, ou seja, logo após os ouvidos terem se aberto. A audição ressoou, mas a campainha alta fez com que o rato ficasse surdo por um dia. Como conseqüência, seu cérebro ficou sem os impulsos sonoros normais durante o período crítico logo após a abertura do ouvido e um centro processador de som do cérebro médio do animal se conectou errada e permanentemente.
Pierson compara a conexão errada do ouvido a um hotel imaginário de 1940 onde uma telefonista sentada à frente de uma mesa telefônica em uma recepção reluzente aguarda a primeira ligação. “Quando a chamada acontece”, diz Pierson, “e a pessoa diz: ‘eu quero falar com o andar de cima, quarto da esquina noroeste”, a telefonista faz exatamente o contrário do que se espera.
Ela não faz a ligação com aquele determinado quarto. “Em vez disso, ela desliga todas as outras conexões do hotel e deixa só a que é necessária.” É assim que o cérebro é organizado para a audição no período de várias conexões, explica Pierson. “Tudo está muito bem conectado, e quando a mensagem chega pelo ouvido direito, então o ouvido esquerdo tem de desligar suas conexões.” Com a surdez temporária do ratinho no primeiro dia em que seus ouvidos se abrem, o desligamento não pode acontecer e o cérebro fica com um “padrão de ligação muito abrangente e pouco específico”.
É como se todos os telefones de todos os quartos do hotel estivessem conectados para tocar juntos quando alguém ligasse para o hotel. No rato, quando um som penetra o ouvido – geralmente um som em alta frequência e que os homens não conseguem ouvir -, a região cerebral da audição, que foi mal conectada, recebe uma carga muito grande e gera grandes queimas de energia. O animal começa a correr em círculos ou a se jogar violentamente e tem convulsões em um acesso muito semelhante à epilepsia nos homens.
Apesar de Pierson não estudar nem a epilepsia humana nem as conseqüências do uso da aspirina em mulheres grávidas, ela tem algumas teorias interessantes a respeito de ambas.
“Os médicos negam que as pessoas tenham acessos induzidas pelo som”, diz ela. “No entanto, quando conversamos com epilépticos, eles dizem que o som pode induzir as pessoas a um ataque. E mais, muitos acessos humanos começam com uma corrida em círculos e uma convulsão”, e os pesquisadores documentaram que os primatas realmente sofrem ataques induzidos pelo som.
De cada 100 humanos que nascem surdos, explica Pierson, 74% possuem ondas cerebrais anormais que sugerem uma epilepsia e 59% têm a epilepsia diagnosticada. Continua ela: “O que os médicos admitem abertamente é que as causas da surdez humana geralmente ocorrem na fase pré-natal” e envolvem um contágio da mãe no primeiro trimestre por sarampo, toxoplasmose transmitida pelas fezes de gato ou pela ingestão de carne crua, por um agente gripal chamado citomegalovírus e antibióticos tais como a kanamicina. “Talvez, acrescenta Pierson, a lista devesse incluir também algo tão simples quanto a aspirina”.
Ela explica também que 69% das mulheres tomam aspirina ou um produto que a contenha (inclusive Pepto-Bismol ) durante o primeiro trimestre quando o ouvido está se formando. “Eu não sei se a aspirina causa epilepsia,” diz ela, e certamente não afeta toda mulher que a toma ou todo embrião que tem contato com ela, ou mesmo toda criança que tenha ataques, já que esses podem ser conseqüência de uma série de fatores.
Contudo, se a aspirina realmente prejudica o ouvido humano, diz Pierson, “seria através de um mecanismo parecido com o que usamos para produzir a surdez temporária e a permanente tendência a ataques dos ratos de laboratório”. Pierson pressupõe que o álcool pode contribuir para os ataques induzidos pelo som e assinala que as crianças portadoras da síndrome fetal do álcool também apresentam altas incidências de problemas auditivos e de ataques.
No futuro, os pesquisadores devem delinear um perfil completo de quando é seguro consumir certas drogas durante a gravidez. Por enquanto não é recomendável que se tome qualquer droga medicinal a não ser que seu obstetra receite e aprove-a.
Drogas ilícitas
O bebê Jeremy foi uma vítima do prazer que sua mãe sentia pela cocaína. Essa sensação é conseqüência do modo como as moléculas da cocaína estimulam o centro cerebral do prazer (chamado de nucleos accumbens).
A farra de dois dias do aniversário de Joan provavelmente deixou seu feto mais vulnerável do que ela mesma. Isso ocorre porque a corrente sanguínea fetal possui o mesmo alimento e as mesmas moléculas da droga que sua mãe consome. Porém, o sistema fetal as dissolve muito mais lentamente do que elas se fixam e assim banham o cérebro por muito mais tempo.
A dose de cocaína no cérebro fetal de Jeremy provavelmente prejudicou ou destruiu células no centro do prazer, assim como em outras partes do cérebro ligadas à emoção, ao movimento e ao pensamento. Segundo a pediatra e pesquisadora Jamie Hutchinson em Washington, DC, além da paralisia física do bebê, ele pode sofrer também duradouras paralisias emocionais, uma incapacidade de se relacionar, de sentir prazer, de fazer julgamentos baseados em sentimentos e de controlar suas explosões.
Lesões no centro da fala do córtex cerebral também podem impedir a comunicação e o aprendizado normais. Os pediatras da Universidade de Yale recentemente encontraram evidências de que crianças expostas à cocaína enquanto estavam no útero se tornaram mais suscetíveis à irritação e ao choro, face a uma nova experiência.
Alguns acham difícil acreditar que uma futura mãe consuma cocaína e arrisque tanto a saúde física quanto mental de seu filho e consequentemente venha a ter um filho inválido para o resto da vida. Contudo, o descuido de Joan não é nem um pouco raro: os hospitais de algumas cidades do interior relatam que até 50% das mulheres usam crack ou cocaína em pó durante a gravidez.
Segundo os pesquisadores Lucile Newman da Universidade de Brown e Stephen Buka de Harvard, com 10 milhões de americanos consumindo cocaína ocasionalmente, 5 milhões consumindo-a regularmente e mais alguns milhões usando anfetaminas, cocaína sintética ou speed, não chega a ser surpreendente que cerca de 425.000, ou mais de 11% dos nascimentos, sejam afetados a cada ano pela cocaína, crack e anfetaminas, além da heroína e maconha.
De acordo com Newman e Buka, a maconha é considerada uma droga leve – tanto que 40% dos caucasianos e afro-americanos entre trinta e dois e quarenta e quatro anos já a usaram – sendo que 10% a utilizaram no último mês de gravidez.
Mães que fumam maconha regularmente durante a gravidez (e mesmo as fumantes passivas em contato com a fumaça três vezes por semana em uma sala fechada) tendem a ter problemas característicos na gravidez: contrações uterinas lentas ou dolorosas, menos leite após o parto e bebês que demonstram sofrimento durante o parto. Muitos bebês têm peristalse enquanto ainda estão no útero da mãe, uma situação rara que dobra os riscos de morte do recém-nascido por vários motivos. Os filhos da maconha, assim como os da cocaína e os do crack, geralmente pesam menos, são mais nervosos e instáveis e apresentam distúrbios do ciclo noite/dia.
Assim como as drogas ilícitas sedam ou excitam o cérebro da mãe, fazem o mesmo com o cérebro fetal, mas de forma exagerada, negativa e permanente porque o feto não é capaz de dissolver e expelir as drogas com eficiência. Uma em cada dez mulheres grávidas que consomem drogas ilícitas aparentemente não sabem disso ou simplesmente ignoram o fato. No entanto, seus filhos e suas comunidades terão de lidar com as consequências disso no futuro.
Com tantas mulheres ingerindo drogas pesadas que alteram suas mentes durante a gravidez, pode parecer simples mencionar uma droga leve como a cafeína. Contudo, muitas pessoas se preocupam com ela, especialmente devido a seu efeito estimulante e à proliferação de lojas especializadas em café. Um americano consome, em média, o equivalente a cafeína de uma xícara e meia de café (cerca de 210 miligramas) seja no próprio café, chá, cola, chocolate, cacau e/ou certos remédios contra dor, estimulantes e moderadores de apetite.
Os pesquisadores fizeram uma série de estudos em animais e nos homens sobre o uso de cafeína durante a gravidez. Eles acusaram a droga de provocar aborto, parto de natimorto, partos prematuros ou retardados, peso dos bebês abaixo da média, fenda palatina, irritabilidade, coordenação nervo/músculo pobre e também diabetes infantil. As descobertas foram muito controvertidas: em um ano os artigos consideraram o uso da cafeína seguro e no ano seguinte, perigoso. Depois de pesar as evidências de ambos os lados, a American Medical Association concordou com o conselho dado pela Food and Drug Administration: “Mulheres grávidas devem limitar ao mínimo seu consumo de cafeína.” O uso de drogas ilícitas pela mãe é obviamente um fator de risco para o desenvolvimento do cérebro de seu filho, mas o pai também não fica isento.
A utilização de cocaína pelo homem pode reduzir o número de esperma que ele produz e prejudicar sua capacidade de locomoção. Muito poucos pesquisadores estudaram como a cocaína consumida pelo pai influencia o feto, mas alguns pressupõem que a cocaína e a maconha podem gerar um feto não muito saudável. Como o esperma dura no máximo noventa dias, o homem pode diminuir as chances de passar um esperma defeituoso se parar de usar drogas (e também de fumar e de beber) três meses antes de fecundar uma mulher.
Álcool
É muito difícil uma mulher pedir um drinque ou uma garrafa de vinho, cerveja ou outra bebida sem saber que pode prejudicar seu feto: os supermercados, lojas de conveniência, restaurantes e bares americanos são obrigados a exibir cartazes na entrada dos estabelecimentos alertando quanto ao uso de bebidas alcoólicas.
Contudo, parece que as mulheres estão ignorando essas advertências: o serviço de saúde pública dos Estados Unidos calcula que 86% das mulheres grávidas bebem pelo menos uma vez, e que 20 a 35% bebem regularmente. Esse fenômeno atinge todas as classes socioeconômicas: em um estudo com mulheres universitárias e pós-graduadas, 30% continuam a beber mais de uma vez por semana durante a gravidez.
Os pesquisadores acham que as deficiências no feto dependem tanto da quantidade de álcool quanto da época em que é ingerido: a bebida no primeiro trimestre, especialmente entre a segunda e a oitava semana, quando o cérebro está se formando junto com as características faciais, pode causar má formação, e a bebida no último trimestre tende a reduzir o tamanho do feto.
Porém, como o cérebro do feto se desenvolve ao longo de toda a gestação (e depois também) ele pode ser prejudicado em qualquer época. Baseado na extensão de problemas cognitivos, emocionais e comportamentais dos filhos de quem bebe, os pesquisadores creem que o álcool prejudique as células do córtex cerebral do sistema límbico e do tronco cerebral. Alguns médicos temem que apenas uma dose de bebida possa prejudicar o cérebro do embrião, especialmente nas primeiras duas ou três semanas de vida.
Lucile Newman e Stephen Buka relatam que no mínimo 4.000 bebês por ano nascem com total síndrome fetal do álcool. Na verdade, o álcool é considerado a causa principal de retardo mental, e 10% dos adultos confinados em instituições mentais por possuírem inteligência muito baixa provavelmente foram expostos ao álcool durante o desenvolvimento fetal.
Uma mulher grávida que beba muito (45 drinques por mês ou mais de 5 drinques em uma noitada) expõe seu filho a outros riscos além do retardo mental. O bebê pode nascer com os oIhos muito separados ou outra anomalia facial, pode nascer com peso muito baixo, com a cabeça pequena e baixa estatura, pode andar e falar tarde, apresentar outros problemas de desenvolvimento e uma série de problemas comportamentais.
Essas crianças podem ter dificuldades em se concentrar, prestar atenção, aprender, falar” compreender a linguagem e tem mais tendências a serem hiperativas, impulsivas e podem apresentar dificuldades em formar julgamentos. Um ou mais de um problema como esse pode afetar o filho de uma mulher que beba moderadamente, mesmo que não apresente uma deformação facial óbvia nem a síndrome fetal do álcool.
A cidade de Racine, Wisconsin, está tentando fazer algo sobre o problema do álcool durante a gravidez de forma dramática: em agosto de 1996, eles acusaram uma alcoólatra grávida de tentativa de assassinato. Depois de uma bebedeira em um bar, ela entrou em trabalho de parto prematuramente. O bebê nasceu com nível de álcool no sangue de 0,199 (três vezes mais alto que o nível permitido em Wisconsin) e com sinais da síndrome fetal do álcool. Os observadores estão divididos quanto à eficácia desse movimento, mas ele realmente chamou a atenção nacional.
Um homem que beba muito pode baixar os níveis de testosterona a ponto de se tornar estéril. Mesmo que um bebê seja concebido com uma parceira abstêmia, a criança geralmente pesa menos ao nascer. Já que não se sabe qual o grau de consumo de álcool seguro, os obstetras aconselham tanto o homem quanto a mulher a ficarem longe da bebida – o pai três meses antes da concepção e a mãe um mês antes.
Como a mulher grávida continua a beber, é óbvio que esse conselho vem sendo ignorado. E o prejuízo para a concentração e o aprendizado das crianças é provavelmente enorme, pois os pesquisadores se preocupam com o fato de que mesmo a bebida moderada pode causar danos aos neurônios do feto e impedir o progresso escolar e da memória durante e após a fase de crescimento.
O fumo
Em uma certa época, mais da metade dos adultos americanos fumavam. Hoje em dia, esse número caiu para menos de um terço. Porém, as grávidas que fumam, ou que respiram a fumaça dos cigarros de seus parceiros, podem prejudicar surpreendentemente o desenvolvimento cerebral de seu bebê. Os pesquisadores do fumo calculam 18 que durante a queima de tabaco se produza de 2.000 a 4.000 componentes tóxicos, assim como altos níveis de monóxido de carbono. Juntos, eles podem diminuir a quantidade de oxigênio” que chega ao feto em até 20% e pode causar anomalias faciais prejudicar várias partes do cérebro e reduzir, no todo, o tamanho do corpo e da cabeça do feto.
As toxinas do fumo provavelmente também prejudicam o esperma do homem e diminuem a contagem de esperma. Um fumante tem grandes chances de gerar uma criança com hidrocefalia, paralisia facial (paralisia facial de Bell) ou com problemas de aprendizado. Uma mãe que fume ou que seja fumante passiva pode prejudicar a audição do feto.
De acordo com o pesquisador médico da Universidade do Colorado, David Olds, ela também pode gerar uma criança de estatura mais baixa e alterar o grau de amadurecimento e o nível de QI em até nove pontos. O fumo pode gerar muitas deficiências de aprendizado tais como: dificuldade de ler, resolver problemas, interpretar significados e permanecer na escola.
A nicotina vicia tanto que é praticamente impossível parar de fumar para a maioria das pessoas, mas a mulher grávida tem um grande incentivo – ter um bebê mais inteligente, com potencial mais alto do que se ela continuasse a fumar. Apenas uma diminuição do fumo já ajudaria, pois quanto menos ela fumar, menores serão os efeitos sobre o feto.
Exposição ambiental
Aproximadamente metade das mulheres trabalhavam quando engravidaram e permaneceram em seus empregos por oito ou nove meses ainda. Contudo, em muitos trabalhos há a presença de produtos químicos que podem prejudicar o embrião ou o feto em desenvolvimento.
As médicas e farmacêuticas, por exemplo, podem se expor à radiação, anestésicos, componentes medicinais, vírus e bactérias, As mulheres que trabalham na agricultura têm contato com pesticidas, arsênico, dioxina e outras toxinas. Quem trabalha na indústria têxtil e em lavanderias respira solventes e fibras, cabeleireiras estão expostas a uma série de solventes, tintas, aerossol, e a lista ainda passa por fotógrafas, pintoras, tipógrafas, transportadoras, para citar apenas algumas profissões.
Se a mulher é exposta a altas doses desses agentes logo no início da gravidez, elas podem abortar ou gerar um bebê com anomalias. Se são expostas a baixas doses ao longo de toda a gravidez podem gerar bebês com. defeitos neurais mais sutis, ou o bebê pode nascer abaixo do peso ou ainda apresentar problemas de aprendizado.
A exposição do pai a agentes industriais pode ter um efeito duplo: a exposição a metais pesados, a radiação etc. pode prejudicar o esperma antes da concepção; e depois da concepção, as partículas e odores que aderem ao cabelo, às roupas e em casa. Mesmo um casal que viva tranquilamente nas montanhas e trabalhe em lugares totalmente benignos pode ter problemas se nos fins de semana esquecerem dos riscos de uma exposição tóxica e jogarem spray no jardim para acabarem com algum inseto prejudicial, ou se lixarem um móvel dentro de uma garagem fechada.
Em algumas regiões do país,” a água e o solo foram contaminados com PCB que aparece no leite materno e pode, futuramente, retardar o desenvolvimento, a memória e a concentração de uma criança.
Estresse
Denna, a enfermeira que mencionamos no início do capítulo, tinha várias inquietações durante a gravidez: ela se preocupava diariamente com a quantidade de café ingerida e com os cigarros que fumava. Preocupava-se também com os gases anestésicos da sala de cirurgia. Porém, o que mais a inquietava era não ter o parceiro ao seu lado, era a carga enorme que suportaria e o estresse propriamente dito.
Ela tinha bons motivos.
Para compreender o estresse na sua forma mais pura, imagine uma zebra reprodutora, com os olhos bem atentos, galopando através do Serengeti, com a poeira se espalhando pelo seu rastro e uma leoa faminta em seu encalço. Assim que a zebra vê a predadora, um sinal do seu cérebro dispara as glândulas de adrenalina que se situam acima dos rins e expelem hormônios do estresse: adrenalina e noradrenalina (também conhecidas por epinefrina e norepinefrina) e cortisol. No mesmo instante, esses hormônios juntos, aceleram o coração, a corrente sanguínea e a respiração para que a zebra possa escapar em alta velocidade.
Esses hormônios param outros processos enquanto a zebra corre para salvar sua vida: param a digestão, o crescimento, a produção de esperma, as respostas celulares imunes, a ramificação dos dendritos e o aparecimento de espinhos nos neurônios cerebrais. Se a zebra correr o suficiente para escapar de sua predadora, essas atividades vitais recomeçam mais tarde. Isso é muito importante, porque sem elas o animal morreria do mesmo modo que se fosse abocanhado no pescoço pelas poderosas mandíbulas da leoa. O pesquisador Robert Sapolsky, da Universidade de Stanford em Palo Alto, Califórnia, resume esse dilema de forma simples: “essa fuga não sai barato!”
Sob circunstâncias normais, depois que um animal sobrevive a períodos de intensa luta e estresse, ele volta a pastar e a cochilar sob o sol da tarde. A louca fuga para a segurança é difícil, mas o estresse do animal é intenso apenas temporariamente.
Em uma pessoa sob estresse crônico e duradouro – uma enfermeira cirúrgica, grávida, separada do marido, como a Denna do começo do capítulo -, o corpo age como se estivesse sendo perseguido por uma leoa pequena, lenta, com dentes afiados, mas de qual quer forma uma leoa. Sapolsky, em seu trabalho em Stanford, descobriu que, durante longos períodos de estresse, o cortisol e outros hormônios ligados ao estresse fazem com que as células nervosas de determinadas regiões do cérebro percam suas ramificações de dendritos e seus espinhos e, às vezes, até morram completamente. Isso pode levar a pessoa a ter uma memória fraca, pensamentos confusos e falta de criatividade.
O estresse também pode piorar doenças já existentes” como a epilepsia, o mal de Alzheimer e a AIDS. Por causa da interrupção de outros efeitos do corpo, os hormônios do estresse crônico do adulto podem gerar fadiga, dores musculares, hipertensão, úlceras, estatura baixa, problemas de fertilidade e um aumento generalizado dos riscos de doenças.
Assim como a zebra sofre uma interrupção temporária de sua capacida de reprodutora, a mulher grávida, como Denna, sofre os efeitos do estresse crônico em seu próprio corpo e os transmite para o feto. O cortisol presente na corrente sangüínea desvia o sangue do útero, e isso, por sua vez, reduz as reservas de oxigênio e nutrientes do feto – em casos extremos, reduz em até 60%. Os hormônios do estresse também atravessam a placenta e aumentam os batimentos cardíacos do feto.
Enquanto essa travessia não for profundamente estudada, nós achamos que os hormônios do estresse podem agir no cérebro fetal do mesmo modo que agem no cérebro adulto – diminuindo o número de neurônios que se desenvolvem e não permitindo que algumas ramificações dos dendritos e espinhos se formem. Os estudos mostraram que quanto mais ansiosa é a mãe, mais náuseas prolongadas, abortos, partos dolorosos ela poderá ter. O bebê, por sua vez, pode nascer agitado, ter mais cólicas, ser propenso a doenças e irritação.
Muitos casais que adiam uma gravidez” para quando tiverem entre trinta e quarenta anos, esperando ter estabilidade financeira e no trabalho, descobrem que seus níveis de estresse durante a gestação são bem maiores devido a vários fatores: preocupação com problemas relativos à idade da mãe, ou porque sua família e seus amigos contam histórias horríveis sobre os problemas da gravidez de uma mulher mais velha, ou ainda porque as expectativas de uma gravidez tão esperada são muito altas – uma gravidez perfeita, um bebê perfeito, uma família perfeita.
Em muitas culturas ao redor do mundo, a gravidez sempre foi vista como uma época de calmaria. Uma antiga tradição japonesa.P por exemplo, aconselha as grávidas a evitarem vendedores nas ruas discutindo alto e a procurarem jardins tranqüilos e os sons de sinos e do vento sussurrando. Em Henrique V de Shakespeare, a personagem Lady Crey queixava-se de que sua tristeza e suas lágrimas poderiam “prejudicar ou matar” o bebê que esperava.
Hoje em dia, os programas de entrevistas e as revistas de saúde geralmente substituem as tradições e as superstições. Os conselhos dados para o combate ao estresse na gravidez são: grupos de apoio, confidentes, relaxamento orientado e meditação. O estresse descontrolado pode ser. realmente prejudicial, e se essas técnicas abaterem a leoa, elas protegerão o bem-estar mental e emocional do bebê que vai nascer.
Nutrição pré-natal
Uma rápida inspeção nos lugares públicos dos Estados Unidos prova que o problema é a superalimentação e não a falta dela. A desnutrição existente nos países industrializados tende a aparecer nas crianças e nos idosos. Ela é resultado da ignorância, do descaso e das doenças (inclusive do vício em drogas e da doença mental), do mesmo modo que é resultado da falta de comida nos países pobres.
A National Academy of Sciences dos Estados Unidos calcula que 12 milhões de crianças americanas ingerem menos nutrientes do que necessitam diariamente (mas não necessariamente menos calorias) e, em muitos casos, essa desnutrição infantil acompanha uma gravidez cujo consumo de alimentos é abaixo do ideal. Os adolescentes são especialmente propensos a uma alimentação pré-natal pobre.
Por exemplo, se uma menina engorda menos de 11 kg e seu peso normal está abaixo de 45 kg e ela fuma ou consome drogas, os riscos de ter um bebê abaixo do peso e prematuro são enormes, além de serem muitas as chances de debilitar o cérebro do feto.
Os pesquisadores têm muitas informações de como a desnutrição pode realmente prejudicar o cérebro do feto e do bebê. Parte dessas informações foram obtidas através de longos estudos com animais e outra parte veio através de histórias, acidentais ou deliberadas, de experiências sobre alimentação humana. Os estudos com animais confirmam que a fome durante a gravidez e a amamentação podem prejudicar o cérebro. Se ocorrer inanição no primeiro trimestre, o resultado pode ser um tubo neural deformado como a espina bífida (medula espinhal aberta), anencefalia (cérebro ausente) ou microcefalia (cérebro extremamente pequeno).
A falta de alimento no segundo trimestre pode resultar em muito poucos neurônios, já que as células nervosas proliferam nesse período. A privação de alimento no terceiro trimestre afeta a formação de mielina, as sinapses, o crescimento do cérebro e a ramificação dos dendritos.
Os pesquisadores confirmaram essa progressão feroz – ou pelo menos suas características comportamentais – nos estudos sobre a fome que atingiu as populações da Holanda durante a Segunda Guerra Mundial, da lndonésia, da África do Sul, do México, da Guatemala e dos Estados Unidos. Bebês muito abaixo do peso e crianças que sofrem pela falta de proteínas e calorias desenvolvem uma cabeça muito pequena, baixos níveis de QI e problemas de audição, fala, coordenação mão/olho, movimentos, aprendizado escolar e relacionamento.
Talvez a “experiência” mais cruel e duradoura tenha ocorrido nos Países Baixos em 1944 e 1945, quando os nazistas alemães bloquearam o transporte de todo tipo de alimento e produziram uma fome artificial e mortal que durou sete meses. Mais de 10.000 pessoas morreram de fome depois que a média de ração de calorias abaixou de 1.500 para 400 e o bloqueio mudou o futuro de mais de 40.000 fetos.
Os registros hospitalares confirmam que aqueles que passaram fome no primeiro trimestre apresentaram deformações no tubo neural, enquanto aqueles que passaram fome no terceiro trimestre (a época que o feto ganha peso rapidamente) nasceram com o corpo e a cabeça menores. Estudos feitos recentemente na América Latina, África e nos Estados Unidos também confirmaram que as crianças desnutridas eram menos inteligentes e tiravam notas mais baixas na escola do que os jovens bem alimentados da mesma vizinhança.
Durante vários anos, os pesquisadores acharam que os prejuízos cerebrais eram os únicos responsáveis por essa estatística desanimadora. Contudo, novas pesquisas mostram que o ambiente também é muito importante e, dependendo do grau de estimulação, pode ajudar a renovar o cérebro pouco alimentado ou dobrar os riscos.
Os nutricionistas sempre se perguntaram algo óbvio e importante: será que um animal jovem ou uma criança prejudicada pela desnutrição consegue se igualar a outros animais e crianças normais? A resposta é sim, e o melhor exemplo são as crianças que sofreram desnutrição depois do primeiro ano de vida, quando os períodos críticos da formação cerebral e a proliferação neural haviam passado e quando a formação de sinapses e de mielina estava acontecendo. Porém, será que as crianças que passaram fome quando ainda estavam no útero também podiam ser ajudadas mais tarde?
Uma das primeiras peças desse quebra-cabeças surgiu no laboratório de Diamond no início dos anos 80, quando uma candidata a doutorado, Arianna Carughi, fez uma série de experiências com ratas prenhes e suas crias. Todas as ratas foram alimentadas com pílulas de alto teor proteico durante a primeira parte da prenhez, depois ela trocou essas pílulas por outras de baixo teor proteico, mas somente para a metade dos animais.
Quando os filhotes nasceram, Carughi alimentou a metade deles com muita proteína e a outra metade com pouca. Ela também separou os animais em grupos: a metade dos filhotes bem alimentados ficou em gaiolas normais e a outra parte em gaiolas enriquecidas. A metade dos filhotes mal alimentados foi agrupada em gaiolas normais e a outra metade em gaiolas enriquecidas. Nesse estudo, portanto, os ratinhos podiam crescer e procriar sob diversas condições internas e ambientais. Carughi descobriu que os filhotes privados de proteína ainda no útero pesavam muito menos e possuíam o córtex cerebral muito mais fino que os filhotes bem alimentados no útero.
Depois de desmamar, esses filhotes mal alimentados podiam ser reabilitados com alimentos altamente proteicos, mas Carughi descobriu que os animais reabilitados em gaiolas enriquecidas desenvolviam um córtex mais espesso do que os filhotes bem alimentados no útero, embora vivessem em gaiolas simples. Os ratinhos mais inteligentes e com córtex mais espesso ainda eram aqueles que haviam tido uma boa alimentação e um ambiente estimulante. Porém, os filhotes mal alimentados quase se igualaram aos outros graças a uma combinação de boa alimentação e um ambiente desafiador.
É claro que as crianças devem reagir do mesmo modo, e os estudos mostram que isso é verdade. Uma má alimentação pode ameaçar o desenvolvimento mental da criança, mas se ela passar a se alimentar bem e tiver um enriquecimento social e educacional antes dos três anos de idade, o crescimento e o amadurecimento de seu cérebro pode, praticamente, alcançar o de uma criança normal.
Os pesquisadores se surpreenderam ao descobrir que alguns problemas de aprendizado em uma criança mal alimentada não surgem a partir de um dano cerebral e sim da falta de estímulos. As crianças mal alimentadas estão tão cansadas e apáticas que não conseguem brincar com amigos ou explorar seu ambiente. Segundo Ernesto Pollitt, um professor de pediatria da Universidade da Califórnia em Davis, essa falta de estímulos ambientais entre o primeiro e o terceiro anos de vida é o maior responsável pelo baixo nível de QI e pela dificuldade de aprender.
Pollitt e mais quatro pesquisadores dos Estados Unidos e da América Central foram escolhidos para estudar 2.000 crianças em quatro cidades da Guatemala por quase dez anos. Em duas cidades, eles forneceram às mães e às crianças um mingau de milho rico em proteínas e vitaminas como suplemento alimentar. Nas outras duas cidades, as mães e as crianças receberam uma bebida a base de frutas, rica em calorias e vitaminas, mas sem proteínas.
Eles acompanharam o progresso das crianças que receberam o complemento rico em proteína. Elas cresceram e desenvolveram habilidades mais rapidamente, tinham mais energia e tiveram um progresso social e emocional melhores do que as crianças da mesma idade que consumiram menos proteína. Com conselheiros e professores ministrando programas de enriquecimento para ajudar as crianças a aprenderem jogos, artes e atividades pré-escolares, ambos os grupos se saíram melhor do que sem o enriquecimento. Contudo, os jovens bem nutridos conseguiam brincar, experimentar e explorar seu ambiente mais completamente e, assim, promoviam o crescimento do seu cérebro.
Uma boa nutrição a partir da gravidez, passando pela amamentação até a criança começar a andar, é crucial para se promover o desenvolvimento cerebral sadio e a quantidade certa de proteína. Uma mulher grávida deve ingerir no mínimo de 76,5 a 93,5 gramas a mais de proteína do que comeria normalmente para sua altura e seu peso. As crianças deveriam comer no mínimo duas porções de alimentos ricos em proteínas como peixe, frango, carnes magras, ovos, amêndoas e feijões por dia, e três a quatro porções de laticínios. Essas porções variam de acordo com a idade da criança.
Uma criança como Jeremy, cuja mãe se alimentava de comidas gordurosas como hambúrgueres, batatas fritas e doces, provavelmente ingeria muita proteína e caloria mas pouca vitamina. Joan poderia muito bem ter tido uma deficiência grave de folacina, o que causaria danos ao tubo neural, sem falar da falta de outras vitaminas necessárias para o crescimento normal do feto. Por outro lado, os pais atenciosos de Lisel planejaram um desenvolvimento perfeito, ingerindo suplementos vitamínicos, mantendo uma dieta adequada, afastando-se das drogas, do álcool, da fumaça dos cigarros e de outros fatores nocivos ao bebê. Praticaram exercícios, meditação e tudo que pudesse beneficiar o feto. Tony e Jeannine queriam se assegurar – e realmente conseguiram – de que não corriam riscos desnecessários e fizeram tudo o que puderam para evitar ter um bebê com algum problema. Eles queriam gerar um filho saudável, que tivesse suas faculdades mentais intactas.
Por isso deram um passo adiante.
Estimulação pré-natal deliberada: O quanto é muito?
Tony havia lido na revista Omni um artigo sobre um programa que ensinava palavras e sons ao feto. O casal consultou seu obstetra que por sua vez nunca havia ouvido falar sobre isso, mas achou que não podia fazer mal. Afinal de contas, há séculos as grávidas acariciam suas barrigas e falam com seus bebês. Isso era mais uma forma de formalizar esses atos, um modo de criar um ambiente comportamental para o feto, tão consciente quanto a nutrição adequada que os pesquisadores haviam criado. Certo?
Tony encomendou o livro Prenatal Classroom escrito por F. Rene Van deCarr, um obstetra da Califórnia, juntamente com o psicólogo Marc Lehrer. Jeannine estava no quinto mês de gravidez quando o livro chegou, e eles começaram justo com a lição do jogo do chute. Seguindo as instruções do livro, ela e Tony fariam um tubo de cartolina e o colocariam apontado para a barriga de Jeannine para poderem conversar com o bebê. Jeannine falaria através do tubo, “olá, mamãe está aqui” e então seria a vez de Tony usar o tubo e dizer, “papai também”.
Eles esperariam um pouco para o feto chutar a barriga em qualquer lugar, depois apertariam um determinado ponto do abdome de Jeannine e diriam através do tubo, “chute, chute! Você é um bom bebê. Chute aqui de novo”. Finalmente, sua filha (eles sabiam o sexo por causa dos exames feitos) aprendeu a responder chutando os pontos que eles pressionavam, e ela podia fazer círculos e outros desenhos mirando bem os seus chutes.
As lições continuaram a ensinar diferentes tipos de contato – acariciando, friccionando, apertando, balançando, afagando, batendo de leve – sempre seguidos de um verbo dito através do megafone de papel. Jeannine ficaria de pé, se sentaria, balançaria ou dançaria dizendo as palavras apropriadas. Ela beberia um líquido quente ou frio e nomearia as sensações para Lisel. Tony ligaria um rádio (“música!”), ou um aspirador de pó (“barulho!”), ou ligaria e desligaria a luz (“claro!” “escuro!” “claro!” “escuro!”).
O casal contaria histórias ou cantaria. Eles bateriam na barriga de Jeannine e contariam em voz alta, um, dois, três, quatro. Eles colocariam um xilofone sobre a barriga de Jeannine, o tocariam e diriam o nome das notas, “Fa!” “Sol!” “Do!” Cada sessão de dez minutos pela manhã e à tardinha começaria com “olá, filha!” dito através do megafone e terminaria com alguns minutos de música clássica utilizando um fone de ouvido, como Richard Dreyfus e Glenne Headley fizeram no filme Mr. Holland, o Adorável Professor. O ritual diário fez com que o casal se sentisse mais próximo um do outro e também de Lisel, muito antes de ela nascer.
Esse jovem casal sentiu-se bem ensinando seu filho dentro do útero. Mas será que eles realmente estavam ensinando? Será que o feto já escuta? Será que o cérebro já está bastante desenvolvido no útero para entender palavras, música, números e ritmos? Ou será que esses são apenas sons aleatórios ou mesmo irritantes para o feto que tenta, literalmente, chutá-Ias para longe?
A partir do final dos anos 70, os pesquisadores, equipados com ultrasons e monitores cardíacos fetais sensíveis, câmeras de fibra óptica e outros instrumentos de alta tecnologia, fizeram um esboço da vida uterina que era desconhecida anteriormente. Hoje em dia, eles sabem que um embrião humano começa a se mover no primeiro trimestre e que depois de quatorze semanas possui a maioria dos movimentos que um bebê possui aos nove meses como: soluçar, chupar o dedo, se curvar, se deslocar, se assustar com sons altos, girar o tronco, mover os olhos e respirar e expirar.
Os pesquisadores sabem que o feto apresenta quatro estados ativos: sono tranqüilo, sono ativo, consciência calma e consciência ativa. Antes de vinte e quatro semanas, ele raramente fica quieto por mais de cinco minutos ininterruptos, depois de trinta e duas semanas, o feto descansa por até meia hora. Sabem que a partir de seis meses, o feto Já consegue ouvir e tem certeza de que o feto escuta. Cuidadosamente.
Anthony DeCasper, um psicólogo da Universidade da Carolina do Norte em Greensboro, foi pioneiro na técnica de testar as preferências de sons de recém-nascidos de dois dias de vida. DeCasper, o psicólogo William Fifer e outros colegas trabalharam na Carolina do Norte e em Paris. Ele inventou um aparelho que permitia ao bebê sugar mais rápido quando ouvisse um determinado som através dos fones de ouvido e sugasse mais devagar quando ouvisse um outro tipo de som.
Com esse método, DeCasper descobriu que os recém-nascidos conseguem distinguir a voz da mãe da voz de um estranho e preferem a voz da mãe. E mais, os bebês preferem a voz da mãe como a escutavam no útero, filtrada pelo líquido amniótico (o que DeCasper consegue reproduzir através de um aparelho eletrônico especial) e não pelo ar. Os recém-nascidos também preferem ouvir a mãe falar na sua língua natal a ouvi-Ia falar, ou mesmo outra pessoa, em uma língua estrangeira.
Eles preferem escutar uma gravação com os batimentos cardíacos da mãe, a ouvir a voz do pai. Eles só começarão a sugar mais forte ao ouvir a voz do pai depois de várias semanas do parto, não logo no início.
DeCasper descobriu algo mais curioso ainda. Descobriu que os fetos não apenas escutam dentro do útero, como também aprendem. O grupo de DeCasper instruiu dezesseis mulheres grávidas a lerem duas vezes por dia, durante o último mês e meio antes do parto o livro do dr. Seuss, The Cat in the Hat, para seu feto.
Quando os bebês nasceram, ele os testou com seu aparelho de sucção oferecendo uma escolha entre The Cat in the Hat e outra história para crianças, The King, the Mice, and the Cheese. É claro que os bebês ouviam e se lembravam do ritmo e dos sons da leitura de suas mães, porque eles escolheram com seus lábios: por favor a história do dr. Seuss, não a outra!
Em uma outra pesquisa na Universidade Estadual do Oregon em Corvallis, William Smotherman ensinou aos fetos de ratazanas a detestarem o gosto e o cheiro de suco de maçã. Ele injetava o suco no saco amniótico da mãe, a seguir injetava uma dose de cloreto de lítio, um componente que deixa os mamíferos muito doentes. Depois que os filhotes nasceram, mesmo que estivessem mortos de fome, eles fugiriam de sua mãe se ela tivesse as tetas sujas de suco de maçã! Eles aprenderam bem a química enquanto estavam na escola uterina. Smotherman repetiu a experiência em fetos de apenas dezessete dias, quando não estavam totalmente formados, e mesmo assim a lição foi aprendida.
A confirmação química do aprendizado fetal tem conseqüências sobre os homens e algumas delas bastante sinistras: um grupo de pesquisadores de Córdoba, Argentina, sustenta que se uma grávida se embriaga, especialmente durante o último trimestre, o odor e o gosto do álcool no líquido amniótico deixam sua marca no cérebro fetal e aumentam as chances desse feto se tornar alcoólatra no futuro.
Nada disso surpreende o dr. F. Rene Van de Carr, fundador da “Universidade Pré-Natal”, Há mais de trinta anos ele é obstetra em Hayward, Califórnia, uma comunidade proletária que fica a 32 quilômetros ao sul de Oakland, e tem observado em primeira mão o que ele chama de aprendizado fetal, “Os fetos fazem escolhas antes de nascer“, diz ele. Isso é verificado pelas reações totalmente diferentes que os fetos mostram quando o pai toca a barriga da mãe e logo a seguir é o obstetra que toca esse mesmo lugar. “São mãos diferentes e, na mesma hora, o bebê – isso pode ser observado através do ultra-som – pára de responder e congela. ‘Quem é esse?’ Você pode dizer que é um condicionamento”, discute Van de Carr, “mas, tornou-se óbvio depois de anos de trabalho. Talvez haja frequências vibratórias diferentes nas mãos.”
Van de Carr é um homem atarracado e grisalho, parecido com Burl Ives, que fala animadamente sobre como tropeçou na estimulação pré-natal. “De volta a 1979, eu tinha uma paciente grávida que colocava pequenos animais – um passarinho e um gatinho – sobre sua barriga, e o feto respondia tentando empurrá-Ios de lá. A mãe e o pai também faziam pequenos jogos com o feto.
Eu achei aquilo muito bonito. Portanto, Van de Carr, pai sete vezes, inventou técnicas para experimentar com os pacientes que quisessem. No começo dos anos 80, ele oferecia aulas. Nessa época – hoje em dia também, até certo ponto – as pessoas estavam presas às suas próprias experiências, o nascimento. “O bebê”, diz ele balançando a cabeça, “era como o carona em uma motocicleta, assim como as pessoas veem o dia do casamento e esquecem-se de coisas do tipo ‘como será que vamos viver juntos’? Eu queria que considerassem o feto como um indivíduo e que a gravidez e o parto não fossem apenas algo pelo qual você tem de passar para poder segurar seu bebê”.
Mais de 3.000 pacientes na comunidade médica local de Van de Carr participaram de suas aulas. Ele deu palestras em vários países e discutiu sobre a estimulação pré-natal em vários programas de auditório, em artigos de revistas e jornais. Van de Carr é direto sobre seus objetivos de acariciar, falar e tocar música para um feto. “Primeiro estamos tentando produzir mudanças que aumentem a consciência e a capacidade de percepção do bebê. Através da alteração do tipo de estímulo experimental, das palavras, ensinamos ao feto a prestar atenção.” Uma vez que o feto e o bebê estejam mais conscientes, Van de Carr acrescenta que “eles mesmos criarão estímulos. Tudo que você tem a fazer é ensinar ao bebê a prestar atenção, e então ele fica à vontade e faz sozinho o que diz o programa Head Start (Bom Início)”.
Van de Carr continua: “Em segundo lugar, mudamos a expectativa dos pais. Ao ver alguém em processo pré-natal, especialmente se for do primeiro filho, você pode modificar o modo como eles se relacionam com seus filhos. Você aumenta a interação e modifica a expectativa de que o bebê responderá plenamente e compreenderá.” Isso, por sua vez, “aumenta o tipo e o conteúdo e talvez até mesmo a rapidez de intercâmbio que ocorre entre a mãe, o bebê e o pai, quando ele está presente”. Essa interação pré-natal, diz Van de Carr, junto com a conscientização dos pais e uma comunicação maior, cria uma família mais unida e um bebê calmo, mais atento, mais feliz, que anda e fala antes dos bebês que não foram estimulados no útero.
Para mim, diz ele, “as diferenças entre um bebê que não foi estimulado” duas vezes por dia durante alguns minutos e aquele que foi estimulado são surpreendentes! Visíveis! Importantes! “Quando completam seis semanas, os bebês estimulados que vêm ao consultório podem ser colocados de pé, desde que sejam seguros pelos dedos e não caem. Eles conseguem fixar os olhos nos seus de vinte e cinco a trinta segundos. Então, você nota que eles prestam atenção por algum tempo e que controlam os músculos segurando um objeto com facilidade por um certo período”.
Além dessas características aparentes, o programa de estimulação faz não só com que os dentes, a força e a coordenação apareçam mais cedo, mas também com que os bebês falem antes. “Recomendamos às mães que não deixem esses bebês que foram estimulados no útero sozinhos, já que sua habilidade motora permite que eles, na primeira semana de vida, movam as mãos, empurrem e rolem direto para o chão”.
Uma enfermeira do consultório de Van de Carr descreve seu filho estimulado de quatro semanas de idade como “um bebê fora do comum”. Ele é mais atento, consciente e confiante do que a maioria dos bebês não estimulados que ela vê diariamente no consultório. “Ele nunca me acorda chorando”, diz ela, em vez disso, ele faz uma série de barulhos com os lábios como se pedisse, “alimente-me”. Ele balbucia quando pára de mamar para respirar e, quando termina, “ele quer que eu o entretenha, que o mime e que o limpe. Eu já conhecia meu filho antes de ele nascer e ele a mim”, diz ela, “nós não tivemos problemas de adaptação”.
Um outro paciente de Van de Carr diz que “o jogo dos chutes foi divertido, estranho e excitante. Eu tinha a estranha sensação de conhecer Carlton antes dele nascer. Como se ele fosse meu amigo a distância”. Carlton sempre foi muito educado, sensível e generoso, sempre preocupado com as necessidades dos outros”, diz ela, “e tem uma memória incrível” de coisas que aconteceram antes dos dois anos de idade. Quando ela engravidou pela segunda vez, começou a fazer a estimulação pré-natal também, “esse bebê é muito ativo. Eu já posso dizer que ele tem muita energia”.
Um outro cliente de Van de Carr tem uma história similar. Quando era um bebê, um menino, que agora tem seis anos, sempre se acalmava e ficava alegre quando sua mãe colocava a música The Sound of Music para tocar. Ela explica que essa era a música que ela ouvia diariamente quando estava grávida. O bebê teve seu primeiro dente aos dois meses de idade. Sua primeira frase foi: “papai tchau trabalho carro.”
Aos dois anos tinha um vocabulário com 227 palavras (sua mãe orgulhosa registrava tudo). A partir dos três anos ele agrupava as árvores em “efêmeras” e “sempre verdes”. Um psicólogo na escola achou que um desenho seu, feito na creche, pertencia a uma criança da terceira série. Seu filho sempre usou as palavras “por favor”, “obrigado” e “desculpe-me” sem hesitar e é seguro, sensível e amigável.
Será que essas crianças que sofreram estimulação pré-natal são realmente mais avançadas? Ou será que é um caso de percepção seletiva dos que realmente acreditam? Depois de muitos anos de críticas dos cépticos, Van de Carr tornou-se mais cauteloso ao usar palavras como “avançado” ou “superior”. “O que deixou as pessoas mais nervosas foi que eu disse desde o começo que essas crianças eram capazes de pensar melhor do que as outras pessoas.
E elas certamente são! A primeira preocupação das mães ao ouvirem isso foi: ‘você está dizendo que essas crianças são melhores do que as minhas?’ Foi uma afronta pessoal”: E evidentemente tornou-se também uma afronta profissional. No início dos anos 80, Van de Carr descreveu suas técnicas de estimulação e os efeitos no desenvolvimento psicológico, fala antecipada e os efeitos na relação familiar, para obstetras que participavam de uma conferência médica. “Eles diziam que as habilidades que notávamos eram impossíveis, que todos sabiam que isso não acontecia e que eu era um charlatão e um mentiroso por apenas sugerir que elas ocorriam. “Minha resposta era: por que não dispor de um tempo e fazer isso com suas próprias crianças para tirar suas conclusões.
Depois eles começaram a dizer, meu Deus, essas crianças podem fazer coisas que não pensávamos que fossem capazes. Agora, tudo é apenas história”. Van de Carr balançava a cabeça novamente e dizia: “mas foi um tanto quanto embaraçoso”.
Quase na mesma época, Donald Shetler, um professor emérito da Eastman School of Music em Rochester, Nova York (hoje em dia ele mora na Carolina do Sul) começou seu próprio programa de estimulação pré-natal. Durante quatorze anos Shetler foi o encarregado do programa educacional de talento da escola, responsável por localizar e encorajar crianças com talento musical. Inspirado por Shinichi Suzuki do Japão (inventor do método Suzuki para ensinar violino às crianças) e pelas discussões com estudantes de música grávidas, ele convocou trinta voluntárias que queriam tocar música clássica para seus fetos. Todas concordaram em tocar por no máximo cinco minutos diariamente, a partir do quinto mês de gestação.
A escolha matinal deveria se “estimulante” com a obra de Handel, Música Aquática para os Fogos de Artifício ou a Sétima Sinfonia de Beethoven. A escolha do fim de tarde deveria ser “calmante”, como a peça de Bach, Ária para a Corda Solou outra composição barroca de Bach, Vivaldi, Telemann ou Handel com o ritmo cardíaco de sessenta batimentos por minuto.
As futuras mães (assim como o outro grupo de mães que não fizeram estimulação pré-natal) se encontravam com Shetler a cada seis semanas durante a gravidez, e depois traziam seus filhos a cada dois ou três meses por mais de uma década. A cada visita, Shetler fazia entrevistas com pais e filhos e depois filmava a performance musical dos pequenos cantando ou tocando instrumentos de brinquedo.
Ele descobriu que as crianças estimuladas através da música começavam a falar cerca de três a seis meses antes das que não eram estimuladas. Quando entravam para a escola as primeiras sempre estavam à frente das outras no desenvolvimento cognitivo e frequentemente pulavam algum ano. Contudo, Shetler estava mais surpreso com a habilidade musical das crianças.
“Essas crianças conseguiam aprender música rápido e sem esforço”, diz ele, “elas aprendiam a tocar e a cantar naturalmente.” Uma menina de vinte e um meses de idade que sofreu estimulação pré-natal” conseguia cantar um hino popular “corretamente, sem erros melódicos ou de ritmo”, escreve Shetler, e conseguia cantar outras doze músicas de cor. Além disso, tocava piano com as duas mãos e cantava enquanto tocava.
Uma outra menina de trinta meses de idade do grupo experimental era capaz de cantar quatorze músicas de cor usando graves e agudos. Ela sabia tocar xilofone de brinquedo, tambor e órgão eletrônico, enquanto fazia pequenas melodias. Muitas crianças que participaram do estudo de Shetler continuaram a estudar piano ou um instrumento de cordas até se tornarem “músicos extremamente motivados. Eles nunca precisaram ser persuadidos a praticar”, diz ele. “Na verdade, eles tinham que ser persuadidos a parar para virem jantar.”
Shetler diz que para ele, não há do que duvidar sobre o fato de que a estimulação pré-natal aumenta a habilidade musical e da linguagem. Apesar de ter acumulado centenas de horas de filmagens, ele não analisou todas elas nem prosseguiu com os estudos. Ele deixou as análises para trás devido, em parte, à pressão financeira e, em parte, devido ao cepticismo público. “As pessoas sempre perguntavam: ‘você está tentando criar gênios musicais? Pequenos Mozarts?’ A resposta é ‘não!,’ mas o público em geral tem medo e suspeita que estejamos produzindo super bebês. Só estávamos tentando ver se, colocando o cérebro para funcionar em seu nível mais alto, poderíamos aumentar as chances de a criança alcançar seu potencial máximo.
É claro que Donald Shetler e Rene Van de Carr acreditam nesse trabalho. Porém, será que o cepticismo médico e científico realmente “agora é tudo história” como afirma Van de Carr? Por exemplo, tome a declaração feita pelo médico de que uma criança que sofreu estimulação pré-natal tem sessenta vezes mais chances de ter seu primeiro dente com um mês de idade do que uma criança não estimulada. Será mesmo possível causar uma mudança física no desenvolvimento jogando “o jogo do chute” e falando através de um megafone de papel?
O grupo do laboratório de Diamond em Berkeley reuniu algumas informações sobre essa questão no início dos anos 70 e depois colocou ratas prenhes em ambientes enriquecidos com muito espaço, companheiros e brinquedos e analisou seus filhotes. As crias pesavam mais e realmente demonstraram um desenvolvimento físico mais acelerado.
Quando esses filhotes enriquecidos cresceram, os cientistas promoveram a procriação com outros, e depois de duas gerações enriquecidas, em geral cada cria apresentava um córtex cerebral bem mais espesso também no nascimento. Diamond imagina que as ratazanas mães que habitam as gaiolas enriquecidas produzem mais hormônios sexuais e esteroides e que estes, por sua vez, poderiam atravessar a placenta e de alguma forma “prover” o córtex fetal.
Norman Wessells, um respeitado biólogo especializado em desenvolvimento da Universidade de Stanford, em Palo Alto, explica que os hormônios e os fatores de controle do crescimento, definitivamente governados por nossos genes, regulam a velocidade do desenvolvimento de um embrião. Ele diz “não há razão para não se acelerar o fator que controla a época do aparecimento dos dentes”.
Dentre os mamíferos já existe um indício de precocidade, explica ele. Alguns mamíferos como o elefante, a girafa e o golfinho já nascem prontos para correr ou nadar atrás de suas mães, enquanto outros mamíferos como o morcego e os primatas (inclusive os homens) são relativamente subdesenvolvidos ao nascerem e os pais devem alimentá-los, protegê-los e ensiná-los durante longos períodos. “Não é difícil imaginar uma mudança para cima ou para baixo nessa escala”, diz Wessells, “mas eu gostaria de saber se uma aceleração poderia interferir na sequência normal do desenvolvimento.”
Por exemplo, no feto humano, assim como em outros mamíferos e nos pássaros, há uma determinada ordem para o início dos sentidos. A sensação da pele aparece primeiro, depois o equilíbrio, o paladar, o olfato, a audição e finalmente a visão. Alguns pesquisadores na Virginia” criaram um teste com um tipo de codorna para verem se podiam alterar artificialmente a ordem através de estímulos.
Eles levantaram um pedacinho da casca de centenas de ovos de codornas e expuseram os filhotes de dentro desses a rajadas de luz oscilantes. Os filhotes, em condições normais, só teriam contato com a luz depois de nascerem e essa exposição prematura parece disparar o desenvolvimento visual. Isso perturbou também a capacidade de fixar corretamente os movimentos e a voz de suas mães e em vez de segui-Ias, eles vagavam pelo terreiro parecendo cegos.
Observamos mais evidências em crianças prematuras. Os bebês que nascem antes do tempo – às vezes até três meses antes – são repentinamente removidos do ambiente sensorial onde seus cérebros deveriam amadurecer em uma seqüência padrão de desenvolvimento durante trinta e oito semanas. O parto prematuro lança esses bebês em um mundo de luz, de sons que não são filtrados, de toques diretos e de carga sensorial muito grande.
A pesquisadora pediátrica Heidelise Als, que estuda prematuros no Children’s Hospital em Boston, verificou que por ano nascem 400.000 bebês um mês antes da data prevista, em uma época em que seus cérebros crescem no ritmo mais rápido possível. As crianças que nascem semanas antes da data provável, diz ela, podem apresentar (mas não necessariamente apresentam) problemas de aprendizado, QI baixo, dificuldade de prestar atenção, falta de coordenação olho/mão e problemas de fala.
Elas se cansam e se distraem facilmente, não possuem auto-estima nem autocontrole, agem impulsivamente e são vulneráveis. Isso, escreveu Als em um recente artigo, sugere que a estimulação sensorial prematura pode apresentar desafios inesperados para o desenvolvimento cerebral e deformá-Io, iniciando períodos sensitivos quando o cérebro ainda não consegue incorporar estímulos visuais, táteis e outros.
Als e dois colegas aplicaram uma bateria de testes psicológicos e acadêmicos a um grupo de crianças nascidas prematuramente em 1987 entre um e três meses antes do prazo. Ela destaca uma criança de oito anos que exemplifica o grupo. Seu teste de QI teve resultado de 115 (a média de QI é de 100), mas ela se encaixava na classificação “normal/boba” devido a uma série de deficiências cognitivas, inclusive no trabalho com números e imagens, enquanto foi considerada “muito talentosa” para habilidades verbais, problemas com palavras e outras. Als conclui que o bombardeio sensorial sofrido pelo prematuro não apenas pode gerar “problemas de adaptação e dificuldades, mas também aceleração e habilidades extraordinárias”.
Seu trabalho visava descobrir o melhor caminho para pais e enfermeiros interagirem com um bebê prematuro, e também descobrir o melhor ambiente hospitalar para que o cérebro continuasse seu desenvolvimento no melhor cenário substituto do ambiente ideal: a escuridão e a calma do mundo aquático uterino.
As descobertas de Als podem parecer um aviso aos futuros pais que não sabem se devem tentar a estimulaçâo pré-natal; contudo, eles não aplicaram a questão da estimulação moderada aos bebês que nasciam a termo. Os estudiosos que trabalham diretamente nesse campo têm opiniões variadas. O pesquisador francês, Jean-Pierre Lecanuet, uma autoridade no que o feto pode ouvir e aprender dentro do útero, acha que o feto “pode se beneficiar com a exposição pré-natal a vários sons, inclusive com os sons de um discurso”, e que isso pode ajudar a ajustar o sentido da audição.
O psicólogo Anthony DeCasper da Universidade da Carolina do Norte, que às vezes colabora com Lacanuet, é menos otimista. Ele se preocupa com o fato de os cientistas saberem muito pouco ainda, e que mesmo uma estimulação pré-natal moderada poderia alterar a ordem do desenvolvimento sensorial humano. “Na ausência de um conhecimento profundo sobre o desenvolvimento fetal humano”, diz ele, “eu não apostaria que o resultado seja necessariamente maravilhoso”. DeCasper considera as explicações de Rene Van deCarr “plausíveis”, mas acrescenta rapidamente que ele ainda não demonstrou “que foi o currículo de sua ‘Universidade Pré-natal’ que concretizou o feito”. A ciência não está exatamente de acordo com as reivindicações. Apesar de apreciarmos a origem da tese – “não são teses loucas”, diz DeCasper, “elas ainda são pouco sólidas”.
A maior parte dos recursos financeiros para estudos sobre o aprendizado do feto vem do National Institute of Child Health and Human Development e Norma Krasnegor, diretora da seção de aprendizado e comportamento humano, observa tudo atentamente, inclusive a questão da estimulação pré-natal. “Nós ainda não estamos no estágio em que podemos dizer se é prejudicial ou benéfica”, diz ela, acrescentando em um gracejo, “eu não acho que haja evidências da credibilidade e que os membros dos institutos nacionais de saúde devam ser arrogantes por usarem roupas de cientistas e ficarem trancados em suas torres de marfim. Sons em decibéis muito altos podem prejudicar a audição do feto”, diz ela; portanto, você não “pegaria uma corneta e gritaria, ‘oi Fred, tudo bem com você aí dentro?’.
Eu estou sendo um pouco brincalhona, é verdade, mas nós simplesmente não sabemos. A única coisa que sabemos é que as mães sempre falam com seus bebês enquanto estão na barriga. Isso era de se esperar e não há nada de certo ou errado nisso.” Ela acrescenta que “poderia cometer um erro se ficasse do lado conservador simplesmente porque, como tudo relacionado à medicina, a melhor política é: ‘primeiro não prejudique’. Não estou sugerindo”, ela continua, “que alguém esteja prejudicando o feto com isso. Mas eles simplesmente não sabem, e fazer mais do que as mães fazem naturalmente pode prejudicar em vez de beneficiar o feto em desenvolvimento”.
Mesmo o próprio Van deCarr, que está convencido de que seu programa é seguro e válido, admite que podem abusar dele. Ele conhece uma mulher que exagerou suas recomendações de estimular o feto por no máximo dez minutos de cada vez, duas vezes ao dia. Em vez disso, ela tocava música para seu filho “por no mínimo três horas diárias entre a quinta semana e o fim da gravidez. Às vezes, tocava por doze horas”, diz Van deCarr.
O menino, aos sete anos, morava com seus pais na Espanha e “já havia tocado concertos ao piano na maior parte dos salões da Europa”. Suas mãos se movem tão rápido enquanto toca seu instrumento, ou as teclas do computador, que é impossível acompanhá-Ias, diz Van de Carr, e “suas reações são acima do normal”. Se você o visse, poderia pensar que ele era hipercinético e dizer “que deveria tomar Retalin – vamos diminuir o ritmo dele”. Van deCarr, enquanto visitava a família notou que, em um minuto, o menino “deitado no sofá, tinha arrumado as almofadas caídas no chão algumas vezes e verificado o telefone outras três vezes. Mas não eram movimentos patológicos”, argumenta ele, “eram movimentos em excesso”.
Um outro grupo que anunciava a estimulação pré-natal, diz ter vendido 25.000 unidades de um aparelho acústico estimulador que a grávida usa no cinto. Ele tocava dezesseis fitas diferentes através de um alto-falante, e o grupo recomendava seu uso por duas horas diárias entre o quarto e o sétimo mês.
Quando perguntaram a Philip Cogen, chefe do serviço de neurocirurgia pediátrica do Children’s National Medical Center em Washington, DC, sobre a segurança desse método, ele disse: “talvez seja demais”, e brincou, “aqui está um novo título para um livro: Drive Your Fetus Crazy (Enlouqueça seu Feto). Os fetos também precisam de silêncio”, diz ele, assim como os bebês. “Se todo mundo chegar pertinho do rosto do bebê e disser ‘bilu, bilu, bilu’, ele finalmente começará a gritar com estimulação”. No que diz respeito à aceleração do desenvolvimento, Cogen acha que “coisas como o desenvolvimento dos dentes, as habilidades motoras e etc. são programadas biologicamente, e podem ser alteradas muito pouco”.
Alguns futuros pais gostariam de tentar enriquecer seu feto ainda no útero, já outros pais preferem esperar o nascimento de seus bebês para usarem métodos diretos. Indiferentemente, nossa opinião é que toda mulher grávida, ou todo casal, devia controlar a exposição aos hormônios do estresse, ao cigarro, ao álcool, às drogas ilícitas ou não, aos pesticidas e aos componentes químicos para proteger o cérebro em desenvolvimento de seus filhos. O programa que se segue sugere proteção e enriquecimento para o feto.
Um programa de enriquecimento mental para as crianças que vão nascer.
Aqui estão algumas recomendações para quem pensa em estimulação pré-natal ou que esteja pronto para planejar um programa de desenvolvimento mental mais sadio de uma criança antes do nascimento.
Se está pensando em ter um bebê, faça os exames pré-natais e procure informações e conselhos médicos para que você possa aprender sobre problemas de saúde, trabalho, ambiente doméstico, hábitos alimentares, exposição a drogas e sobre o nível de estresse antes de engravidar, podendo assim fazer as alterações apropriadas.
Se você já está na iminência de ser pai ou mãe, pergunte-se sobre seu próprio comportamento em relação aos cuidados pré-natais e ao enriquecimento.
- O pai ou a mãe fumam?
- Você é uma fumante passiva no trabalho, em lugares públicos ou nas casas de outros?
- Você consumiu álcool durante a gravidez?
- Você ingeriu algum remédio potencialmente prejudicial?
- Você só ingeriu remédios receitados e aprovados por seu obstetra?
- Você usou cocaína, maconha, heroína ou outra droga ilícita pesada ou participou como fumante passiva?
- Você consumiu bebidas ricas em cafeína durante a gravidez?
- O pai ou a mãe foram expostos a qualquer tipo de toxina?
- Você cuidou de sua alimentação observando a ingestão de proteínas, vitaminas e outros nutrientes?
- Você vivenciou períodos de muito ou pouco estresse?
- Você faz exercícios ou relaxamento regularmente?
- Sua vida é estável com apenas algumas mudanças já esperadas além da chegada do bebê, ou ela é repleta de mudanças de emprego, casa, apartamento ou relacionamento?
- Você tem o controle total, parcial ou nenhum sobre suas atividades diárias e sobre seus horários?
- Você se sente sozinha ou entediada sempre, às vezes ou nunca?
- Você passa por desafios mentais pelo menos diariamente?
- Você presta atenção aos movimentos do feto?
- Você fala ou lê histórias para o feto diariamente?
Avalie os efeitos de tudo que você respira e engole durante a gravidez. Dizer a você mesma “um pouco disso não faz mal”, é brincar de roleta russa com o mais complicado processo do universo. O crescimento físico e mental de uma criança – antes e depois de nascer – já é em si um grande desafio para os pais que não se expõem a perigos que podem roubar o potencial da criança.
Mantenha um diário alimentar e cuide da ingestão de proteínas, vitaminas e calorias durante a gravidez. Provavelmente seu médico a orientará em relação à nutrição de mulheres grávidas e em relação a crianças entre um e dez anos.
É certo, pelas pesquisas descritas neste capítulo, que o feto pode escutar e se lembrar de coisas ditas regularmente e em voz baixa durante as últimas semanas antes do nascimento. Já que o seu feto está escutando mesmo, por que não – em períodos de no máximo cinco a dez minutos, pela manhã e à tardinha – falar com ele, ler histórias, ouvir música, tocá-Io gentilmente e transmitir o seu amor? O pai e outras crianças também podem fazer isso se quiserem, falando em um tom regular perto da barriga da mãe. Por fim, essa comunicação vai aumentar sua expectativa, vai ajudar a treiná-Ia para participar do crescimento cognitivo do bebê e deixá-Ia pronta para a união da família.
Evite longos períodos de estimulação pré-natal e quaisquer aparelhos que transmitam sons altos ou prolongados ou mesmo clarões de luz sobre o feto. Em nossa opinião, já há muitas coisas desconhecidas nessa hora para ir além do toque indireto e do som abafado que o feto encontra naturalmente.
Só por brincadeira, anote as músicas que você tocou, as histórias que leu e as vozes que o feto escutou e veja, depois, se o bebê responde alegremente ou se acalma quando ouve os mesmos sons.
Verifique com seu obstetra antes de fazer qualquer coisa que esteja planejando e, se estiver seguindo um programa escrito, mostre-o também ao seu médico.
Aqui está uma seleção musical que você pode tocar para seu feto ouvir. Como esses concertos podem acalmar o bebê depois do nascimento é bom ter um repertório pequeno mas bem ensaiado.
Esses concertos são recomendados pelo dr. F. Rene Van de Carr e pelo músico e professor aposentado dr. Donald Shetler.
- Música Aquática para os Fogos de Artifício, Handel.
- “Primavera”, das Quatro Estações, Vivaldi.
- Ária para Corda Sol, J. S. Bach.
- Cânon em Ré Maior, Pachelbel.
- Quadros em uma Exposição, Mussorgsky.
- Peças lentas e ritmadas de Hayden, Mozart, Beethoven ou Vivaldi.
- Música popular de Tom Paxton, Burl Ives, Tom Chapin e Raffi.
Para que avalie a possibilidade de ler o livro completo, seguem os títulos de todos os capítulos.
Sumário
009 – Prefácio e Agradecimentos
013 – Introdução: A experiência é a maior escultora
020 – Cap. 1 – Árvores que crescem na direção certa: Florestas neurais da mente
043 – Cap. 2 – Algo encantador: A rede de conexões do cérebro
068 – Cap. 3 – Alimente meu cérebro: Influências dentro do útero (este foi o aqui reproduzido)
099 – Cap. 4 – Olhos sonhadores repletos de surpresa: Cuidando dos bem pequenos
141 – Cap. 5 – Isso se torna parte da criança: Estimulando a mente no período pré-escolar
178 – Cap. 6 – Deixando o futuro entrar: A força da experiência no meio da infância
217 – Cap. 7 – Plantar outra árvore: Desenvolvimento mensal contínuo na adolescência
245 – Cap. 8 – Aprender não por acaso: Enriquecimento na sala de aula
264 – Cap. 9 – Como a manhã apresenta o dia: Como os fatores sociais moldam as futuras mentes
283 – Notas
297 – Índice
Boa leitura.
Paulo Dirceu Dias
paulodias@pdias.com.br
Sorocaba – SP
Julho de 2019